quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

7. Os passeios - Calama e a maior mina de cobre a céu aberto do mundo




De San Pedro até Calama são cerca de 100km, por uma estrada que parece (só parece) monótona. Ela não é monótona por dois motivos, um com alta velocidade e outro com baixa velocidade: 
Alta velocidade. Como ela parece monótona, o povo resolve pisar. Chega-se fácil acima dos 130km/h nela. Por isso mesmo de vez em quando alguém escapa. Quando fomos vimos 3 carros fora da estrada, um deles tinha passado direto por uma curva pouco tempo antes da gente passar. Daí o que parecia uma monotonia vira uma tremenda dor-de-cabeça. 
Baixa velocidade: basta você parar o carro e andar  uns poucos metros que vai perceber que o deserto é repleto de vida e toda essa vida é diferente do que se conhece. O que parece ser uma touceira de capim ressequida na verdade pode ser uma planta que não cresce em touceiras, não é capim e decididamente não está ressequida: lá estão as florezinhas miúdas e umas folhinhas bem adaptadas ao clima seco.


Em Calama fomos visitar a maior mina de cobre a céu aberto do mundo. A exploração da mina de Chuquicamata (que significa ponta de lança) foi iniciada antes da chegada dos europeus nas Américas, mas sua exploração moderna (com processo de purificação e maquinário) tem quase cem anos. Normalmente as minas têm exploração estimada em 50 anos, mas Chuqui (como é chamada) continua bastante ativa e as estimativas indicam haver reservas para mais 50 anos.
Hoje a mina é considerada bastante produtiva, mas eles só conseguem uma porcentagem de 0,86%, ou seja: a cada 1.000kg de rocha retirada, eles conseguem extrair pouco menos de 9kg de cobre.

A mina funciona 24h por dia e tem 5km de extensão, 3km de largura e 1km de profundidade.


Os geólogos do grupo (Breno e Claiton) adoraram a visão da mina em funcionamento:




O minério retirado é colocado em enormes caminhões que custam 5 milhões de dólares cada, e são trazidos para a superfície para purificação. Esses caminhões consomem 3litros de diesel por minuto, possuem tanque de 5.000 L de combustível e cada pneu custa 40.000 dólares. E só dura 8 meses! Esses caminhões são tão grandes que tive que tirar uma foto deles junto a uma carreta normal, para ter ponto de referência.







Na volta desse passeio, chegando a San Pedro, pudemos ver mais uma vez, o Licancabur. Como eu disse, a montanha mais fotogênica que eu conheço.








6. Os passeios - laguna Cejar




A laguna Cejar fica a 30km de San Pedro e muita gente vai até lá de bicicleta. Na verdade são duas lagoas. Em uma delas se pode entrar na água e na outra só se pode ver e fotografar.
As duas lagunas são hipersalinas, com uma quantidade tão grande de sal que as pessoas não afundam quando entram. A sensação de boiar sem boia é bastante interessante. Essas fotos foram tiradas em um local com mais de 3m de profundidade.






Na laguna que não se pode entrar, os animais dominam, e é impressionante como eles conseguem sobreviver em um ambiente com tanto sal. Abaixo, uma das 3 espécies de flamingo da região, o  flamingo chileno (Phoenicopterus chilensis), e duas espécies endêmicas da região: a caiti (Recurvirostra andina) e a batuíra Charadrius alticola.







A vegetação também bastante adaptada e sobrevive mesmo com o excesso de sal.





segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

5. San Pedro de Atacama



Embora a aduana argentina esteja próximo da fronteira com o Chile, a aduana chilena se encontra em San Pedro de Atacama, a mais de 150km de distância. Mas não tem importância, porque não se tem mais para onde ir senão ir para lá. Só existe a estrada e o deserto ao redor. Chegamos em San Pedro e fomos logo fazer os trâmites de "entrada" no Chile (embora já estivéssemos a 150km da fronteira, hehe).
Para quem está fazendo as malas, San Pedro pede roupas frescas e roupas de inverno. Durante o dia a temperatura passa fácil dos 35 graus e durante a noite pode chegar a 4 graus, mesmo no verão.

A chegada em San Pedro de Atacama é um choque para alguns. O lugarejo é poeirento, feio (para os padrões normais dos turistas e para um lugar tão badalado), as casas são feitas de adobe e as ruas são apertadas e com um trânsito maluco. Algumas ruas são somente de pedestres (peatones), outras mudam o sentido constantemente, uma delícia para quem está tentando usar o GPS para chegar na pousada.



Logo depois do choque inicial, o turista começa a perceber as belezas do lugarejo. Abaixo, a rua principal (com trânsito de carros bloqueada para uso dos pedestres). Assim ela é chamada de um "peatonal". Repleta de lojas de artesanatos, restaurantes, agências de turismo para os vários passeios e casas de câmbio.


Os restaurantes são excelentes e num calor daqueles, nada melhor que uma "cervejinha" fria (abaixo). Não, eles não servem cerveja gelada. Nem adianta Pedir. Nem refrigerantes ou água gelados. Se der sorte, consegue alguma coisa fria, mas fique feliz se conseguir.


Em San Pedro tem uma igreja muito bonitinha e interessante: erguida no século XVII, ela tem paredes de adobe e no telhado o forro é feito da madeira (se é que aquilo pode ser chamado de madeira) de cactos (o cardón).


San Pedro fica meio vazia durante o dia, porque o calor é grande e porque todos estão visitando as atrações turísticas. Durante a noite o lugar ferve de gente, comendo, bebendo, planejando o passeio do dia seguinte ou contando o que viu naquele dia. A maioria é composta de turistas desencanados e mochileiros de todas as idades.

Uma das atrações de San Pedro é a casa de Pedro de Valdivia (1497 – 1553). Ingressou na carreira militar em 1520. Um dos responsáveis pela conquista do Chile. Chegou no Chile em 1540 e essa casa foi construída para sua vinda. No ano seguinte fundou Santiago. Enfrentou a hostilidade dos povos indígenas em todas as regiões do mesmo modo. Militarmente... No processo fundou outras cidades chilenas: La Serena, Concepción, La Imperial e Valdívia. Fazendo as contas, essa casa (que ainda é usada), tem ... 473 anos de idade!







4. Terceiro dia: Salta até San Pedro de Atacama



Embora Salta seja uma cidade muito bonita, resolvemos deixar ela para a volta da nossa viagem ao Atacama. Daí só dormimos lá e no dia seguinte saímos em direção a San Pedro.


Decidimos ir para San Pedro de Atacama passando pelo Paso de Jama. Logo após Salta passamos por San Salvador de Jujuy e daí as coisas mudaram bastante. Neste terceiro dia começam as coisas mais legais:

1. Passamos por Purmamarca e vimos a montanha das sete cores


2. A vegetação mudou radicalmente e paramos para registrar os cactus gigantes (cardón). Na foto, o Julio, um dos botânicos da viagem. 


3. Começamos a subir a cordilheira e a rota proposta pelo GPS começa a parecer uma cobrinha. E a altitude só elevando:

4. Na vida real a coisa não foi muito diferente, e pegamos nosso primeiro "caracoles"(a estrada era tão íngreme e o ar rarefeito que nosso carro só conseguia fazer 45km/h, pisando fundo). E isso foi ótimo, porque as curvas e precipícios eram tantos que seria loucura andar mais rápido que isso. Espantoso foi encontrar povo de bicicleta indo para o Atacama e encarando essa subida.


5. Depois de um loooonnga subida, chegamos ao Paso de Jama. Os "Pasos" são os locais mais baixos por onde se pode atravessar uma cadeia de montanhas. Esse Paso estava só a 4.170m de altitude, o que significa que tudo ao redor estava mais alto...


6. Já no altiplano, encontramos nosso primeiro salar. Os salares são regiões mais baixas, que acumulam água de chuva (quando chove!!) e águas de degelo. Essas águas ao descer as montanhas carregam sais. Lá embaixo, o sol evapora a água e o sal fica acumulando. São quilômetros e mais quilômetros de uma crosta de sal que pode atingir 1 metro de espessura ou mais.







7. Depois disso, encontramos nossa primeira vicunha A vicunha é parente do camelo, chega até 1,30m e pesa 40kg. Sua pelagem é muito fina e macia e tem grande valor comercial e a espécie quase foi extinta por isso. Vive entre 3.000 e 4.600m e está presente no Peru, Bolívia, Argentina e Chile. Seu ambiente natural é a puna, uma estepe elevada, desprovida de árvores. A vicunha tem 3 outros parentes na região andina: o guanaco, a lhama e a alpaca. A vicunha e o guanaco são espécies silvestres e a lhama e a alpaca foram domesticadas pelos povos andinos.


8. A seguir, o primeiro perrengue: a gente sabia que teria que abastecer num lugarejo chamado Susques, mas quando chegamos lá, o único posto de gasolina da cidade estava sem ninguém por perto e o "posto de gasolina" era assim:


já pensou o tanque de combustível com gasolina de um lugar assim? Ficamos lá, meio perdidos, por uns 20 minutos até passar uma pessoa e nos dizer que tinha um outro posto, pouquinho melhor, uns 4km mais pra frente na estrada. Esse salvou nossa pele.

9. Mais adiante encontramos a aduana argentina, um pouco antes da fronteira com  o Chile. Dois dias depois que passamos por essa aduana, caiu neve ali. Isso em pleno janeiro. Mas não é para menos. A aduana fica a 4.100m acima do nível do mar:





10. Alto, né? Mas isso não era tudo. A partir daí fomos em direção da fronteira do Chile e ainda subimos. Nosso GPS continuava indicando que a gente estava subindo...


11. Já no final dessa etapa da viagem começamos a descida em direção a San Pedro de Atacama. São 42km de descida reta, onde se sai de 4.400m para 2.400m (foto abaixo). A inclinação é bem razoável e os freios acabam esquentando muito pelo esforço. Fomos aconselhados a descer usando freio motor e fizemos isso, mas a velocidade ficava sempre acima dos 100km/h nessa descida. E do nosso lado direito, o lindo vulcão Licancabur. Decididamente uma das montanhas mais fotogênicas que eu conheço.



Chegamos em San Pedro no final da tarde desse terceiro dia.




3. Segundo dia: De Resistência até Salta



No segundo dia fomos de Resistência até Salta são cerca de 817km, passando pela região conhecida como Chaco.

No km 678 (a partir da aduana em Puerto Iguazu!) pedágio. 5 pesos.



  Como a região é muito plana, a estrada (Ruta 16) tem muitas retas e a viagem rende bastante. Nesse trecho da viagem os postos policiais são muito mais raros.
No km 1057 passamos por uma localidade chamada Monte Quemado. A partir daí o asfalto ficou bem ruim, com muitos buracos e consertos mal-feitos.
No km 1305 saímos da Ruta 16 e pegamos (à direita) a Ruta 34, que é bem melhor. Asfalto lisinho e retas lisinhas, haha (veja foto abaixo).





Passamos por 3 áreas que são áreas de vida silvestre cortadas pela rodovia e por ser primavera, estava lotado de borboletas. Matamos sem querer, centenas delas com o carro. Deu até um aperto no coração.



Chegamos em Salta e ficamos no Hotel Provincial Plaza (http://www.provincialplaza.com.ar). Outro hotel honesto e fica na calle Caseros 786. 




2. Primeiro dia: De Puerto Iguazu até Resistencia, Argentina



As estradas na Argentina são normalmente muito boas e o pedágio, quando existe, é bem barato. Em compensação, a polícia argentina é sempre um problema. Nunca se sabe quando eles farão uma verificação legal e autentica, e quando eles irão inventar alguma história para conseguir um suborno.
Antes de viajar a gente leu que era preciso levar nos carros:
2 triângulos de emergência
1 mortalha (pano branco do tamanho de um lençol para cobrir óbitos na estrada
1 cambão (peça de metal com engates para rebocar carro)
1 caixa de ferramentas
1 caixa de primeiros socorros
carta verde (seguro internacional)
Só uma vez nos pediram alguma coisa nas várias paradas de fiscalização, e foi a carta verde. O resto nem disseram nada.
Tive que pagar um suborno para um policial porque tinha acabado de sair de um posto de gasolina e tinha esquecido de acender os farois. Ele me disse que eu teria uma multa de 300 litros de combustível e que ficaria com o carro apreendido até o dia seguinte, mas depois sugeriu resolver a coisa ali mesmo e pediu 300 pesos. Acabamos acertando por 100 pesos (cerca de 40 reais).
Outro amigo foi "mordido" porque estava transitando dentro da cidade de Currientes usando GPS!! Segundo o policial,dentro de Currientes é proibido usar GPS. Mas essas "fiscalizações"e "multas"são só para motoristas brasileiros: os argentinos estão sempre com luzes apagadas, usam GPS em todo lugar e nada acontece. Coisas de "noestros hermanos".
Quando se sai da aduana argentina em direção a Posadas pela Ruta 12, já no km 25 existe uma barreira policial.
No km 39 outra, da Gendarmeria Nacional (lembra o exército pelas fardas).
No km 46, outro posto policial.
No km 92, posto de pedágio.
No km 124, posto da polícia, Gendarmeria Nacional.
No km 170 chegamos a Puerto Rico. Muitos brasileiros abastecem ali (o segundo posto de quem está indo). Aceita cartão de crédito e tem uma loja de conveniências. Logo a seguir, uns 2km adiante, existe a churrascaria do Mathias, onde paramos para almoçar.
No km 243 passamos pelas ruínas jesuítas.
No km 258 posto da polícia caminera (polícia rodoviária).
No km 265, pedágio de Santana
No km 290, posto policial. Policia de Missiones.
No km 313, posto policial. Gendarmeria Nacional.
No km 376, pedágio. 6,50 pesos. Na sequência, posto da Gendarmeria Nacional.
No km 405, posto policial.
No km 578, posto Gendarmeria Nacional
No km 599, posto policial.

Chegamos a Currientes umas 18:00h e logo passamos pela ponte sobre o rio Paraná. Do outro lado do rio, Resistência.



Linda a ponte:


Ficamos hospedados no hotel Covadonga (calle Güemes, 200). Nomezinho bem feio, mas o hotel é legalzinho. Honesto, como diria um amigo meu.

Jantamos num restaurante local, que fica longe da rota turística. Restaurante Don Abel. Comida boa e ambiente agradável, apesar de não aceitar cartão. Fica a dica: cuidado com os garçons: o nosso embolsou parte da grana quando fomos pagar a conta e depois quase tivemos uma discussão com o dono. O esquema deles é simples mas eficiente: digamos que a conta fique em 130 pesos. Você entrega 200 pesos, ele embolsa 50 pesos e entrega para o caixa 150 pesos. Daí o caixa faz as contas, e devolve 20 pesos de troco. Quando você vai reclamar, o caixa diz (honestamente) que recebeu 150 pesos e o troco está certo. Você diz (honestamente) que pagou 200 pesos. E o garçom nem está por perto, porque está atendendo mesas com cara de ocupado e honesto.






domingo, 20 de janeiro de 2013

1. O Planejamento


                                                                                                                                                                 .
O projeto era simples: 3 carros, 9 pessoas, de carro até o deserto de Atacama. 11 dias, 5.000km.
Em um carro, Breno, Maristela e seus filhos Lorenzo e Enrico; no outro carro, Julio e filha, Najara, no último carro, Flávio, Lívia e o Claiton. Dois geólogos (Breno e Claiton), dois botânicos (Livia e Julio), uma Fisiologista/nutricionista humana (Maristela), 3 adolescentes especialistas em joguinhos de celular, computador e tablets e eu, especialista em coisa nenhuma.
O Breno tinha algumas dicas e contatos e fez as reservas de hotel. Eu saí fuçando na internet dicas e relatos de viagem. Saímos no dia 5 de janeiro de 2013 de Cascavel - PR.
A primeira parada foi no restaurante e posto "Pepinão", às margens do Parque Nacional do Iguaçu, para o café da manhã e abastecimento. O dia clareando já rendeu uma foto muito bonita.


A seguir seguimos para Foz do Iguaçu e depois para a aduana Argentina, em Puerto Iguaçu, para os trâmites de entrada. Aí começou realmente a nossa viagem.